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Logística Reversa avança, mas é preciso ampliar ações de reaproveitamento de resíduos

Quando você descarta a caixinha da pasta de dentes, a embalagem do leite ou o frasco de perfume está realmente jogando fora? Ao se pensar no planeta como casa, o “jogar fora” não existe. Todo resíduo produzido pela humanidade vai parar em algum lugar, seja nos aterros, seja nos lixões. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), cada pessoa produz, em média, 343 quilos de lixo, por ano no país: cerca de 80 milhões de toneladas. Muito desse material tem capacidade de ser reaproveitado e o ciclo de vida de um produto pode se estender além do seu uso.

Este ano, a Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010) – completa 13 anos de existência. A legislação trouxe uma série de inovações para a gestão e o gerenciamento de resíduos sólidos. Discutida no Congresso Nacional por 19 anos antes da sua aprovação, segundo Paulo Moura, analista ambiental da Coordenação de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Fiep, a política é uma das mais modernas e completas do mundo e trouxe muitos instrumentos e responsabilidades para o setor público, empresas e para o consumidor final.

“Para o setor produtivo, foram duas iniciativas estabelecidas: o Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), para ser tratado dentro da área das fábricas e indústrias, e a Logística Reversa, que trata da destinação após o consumo”, explica.
O analista considera a Logística Reversa um instrumento fundamental, uma vez que a responsabilidade do setor produtivo não acaba após o produto sair da unidade fabril ou da loja. Quem produz deve cuidar de todo o ciclo de vida do produto, garantindo que o resíduo gerado tenha uma destinação correta. A logística reversa também é importante para a sociedade, uma vez que se conecta com outras pautas, como a circularidade e os princípios ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance e que corresponde às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização).

Para Paulo, um dos grandes desafios para o cumprimento da lei é de responsabilidade do poder público, que ainda não conseguiu eliminar os lixões a céu aberto no país. “Já as empresas avançaram significativamente porque precisam cumprir o PGRS. Quanto à logística reversa, percebo que há um grande amadurecimento do setor com iniciativas sendo criadas pelas empresas. Um dos melhores exemplos vem da área de defensivos agrícolas, em que a logística reversa é fundamental para evitar contaminações na natureza e que hoje é um dos melhores do mundo”, comenta.

Parcerias que contribuem para a sustentabilidade

Ao colocar em prática a logística reversa, as empresas atendem a todo o tripé da sustentabilidade: é um processo importante para o pilar ambiental, uma vez que impede que os resíduos sigam para lugares indevidos. Para o âmbito social é valiosa porque está ligada às associações de catadores que, a partir da coleta principalmente de embalagens, conseguem garantir o sustento de suas famílias. Já do ponto de vista econômico, a logística reversa pode auxiliar as indústrias pois evita o desperdício de matérias-primas e outros materiais.

A Fiep, por meio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), já acompanha a Política Nacional de Resíduos Sólidos desde o projeto de lei, contribuindo com a visão da indústria na formatação. Especificamente em relação à logística reversa, com a criação de regulamentações estaduais em 2012, a Federação vem desenvolvendo continuamente ações para apoiar o setor no desenvolvimento de processos relacionados ao tema. Uma dessas iniciativas foi a participação ativa, junto a outras instituições, na criação, no Paraná, do Instituto Paranaense de Reciclagem (Ínpar), que tem o objetivo de promover a logística reversa das embalagens pós-consumo.

O Ínpar hoje agrega 31 sindicatos patronais industriais de diversos setores e mais de 150 empresas em seu quadro associativo. “A Fiep participa desde o início, diretamente, da gestão da entidade, provendo suporte institucional, técnico e jurídico ao Instituto. Sem esse apoio, dificilmente existiria. A parceria viabiliza, por exemplo, que indústrias paranaenses sindicalizadas possam neste ano usufruir de um bônus de cerca de 30% no valor das suas anuidades”, comenta Gustavo Fanaya, gerente executivo.

Outra entidade da qual a Federação é parceira é o Sindicato das Indústrias de Papel e Celulose do Paraná (Sinpacel). Para Rui Brandt, presidente do sindicato, embora o setor de papel e celulose tenha características próprias que o desobrigam de certos compromissos, a logística reversa é uma questão importante para que as empresas cumpram o seu compromisso social e econômico e, principalmente com o meio ambiente.

Para ele, ainda existem desafios, como por exemplo os custos decorrentes das ações, que para as empresas de menor porte podem impactar nos resultados financeiros. “Sentimos também falta de pessoal qualificado, principalmente por se tratar de uma atividade muito nova”, comenta.

Exemplo na prática

Muito necessária na área de embalagens, a logística reversa tem na Tetra Pak um exemplo de sucesso. Há mais de 25 anos, atua no fomento à cadeia de reciclagem no Brasil: hoje são cerca de 26 recicladores no Brasil, entre papeleiras e recicladores de plástico-alumínio, que trabalham a favor da economia circular.

“Com esse trabalho, transformamos materiais recicláveis de embalagens pós-consumo em novos produtos de valor agregado, como telhas, pallets, cadernos, poltronas, caixas, luminárias, bicicletas, pisos e outros”, conta Valéria Michel, diretora de Sustentabilidade da Tetra Pak Brasil e Cone Sul.

Para a diretora, a PNRS é muito positiva para o país. Mas o cenário da coleta seletiva e da reciclagem ainda tem espaço para evolução, segundo uma pesquisa do Ciclosoft 2023, recentemente publicada pelo Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre) e patrocinada pela Tetra Pak.

“Cada um dos atores envolvidos na cadeia de reciclagem e que dela participam, contribuindo para a coleta e destinação correta dos resíduos sólidos, é essencial para que a PNRS funcione plenamente e alcance seus objetivos. Isso significa a necessidade de uma atuação efetiva do governo na implementação de infraestrutura para a coleta seletiva nos municípios; da iniciativa privada, suportando a estruturação e desenvolvimento da cadeia e, também, o envolvimento dos demais elos, como os catadores, cooperativas, associações e o cidadão neste processo”, completa.
A Fiep apoia a prepara as indústrias

Segundo Paulo Moura, um dos papéis fundamentais da Fiep é atualizar as indústrias a respeito das novidades do setor de gerenciamento de resíduos, bem como apresentar as novas normativas que surgem periodicamente. Além de capacitações frequentes, promove já há seis anos o Seminário Paranaense de Logística Reversa, que este ano acontecerá em novembro.

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